Fotos: Dan Schewantznider |
Quarta-feira,
dia 17 de maio, 19h. Hall do MUSA, o Museu de Arte da UFPR. Data, horário e
local da criação do primeiro homem e da primeira mulher, com barro, como está
escrito na Bíblia: Adão e... Lilith!
Foi
nesse universo que mergulharam os atores performers Sabrina Marques e Nicolas
Carvalho ao criarem e executarem a performance “Lilith”, cuja estreia foi nesse
dia bem frio, nada convidativo para entrarem em cena só com as roupas íntimas e
barro. Curiosamente, não foi essa a parte mais difícil: para ela, foi
conseguirem o barro adequado; para ele, sentir a sensação de estar no mundo
pela primeira vez, experimentando as coisas como se nunca houvesse feito isso.
A respiração, que marcava os gestos e movimentos, também foi um desafio:
inspirar em um e expirar em dois tempos.
Fotos: Dan Schewantznider |
Fotos: Dan Schewantznider |
Fotos: Dan Schewantznider |
Para quem não sabe, não foi Eva a
primeira mulher de Adão, e sim Lilith, cuja história foi extirpada do Gênesis.
Este casal teria sido criado ao mesmo tempo, em barro (Lilith não nasceu de uma
costela de Adão), mas ela foi expulsa do Paraíso por começar a questionar
certas atitudes e posições dele a respeito do relacionamento dos dois – ele
tentava colocá-la numa posição mais submissa, e ela se recusava a acreditar-se
inferior a ele, afinal eles eram feitos da mesma matéria. Fora do Éden, ela
teve filhos do pecado: raiva, angústia, ódio, inveja. E mais tarde voltou como
a serpente, para tentar Eva.
A vontade de fazer partiu de
Sabrina, porque a Palavração está incentivando seus integrantes a desenvolverem
outros trabalhos, mais autorais, para serem apresentados independentemente da
peça oficial do ano – a estreia foi na 15ª Semana dos Museus, que este ano teve
como tema “Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus”. Nicolas
já tinha experimentado performances antes de sua entrada este ano na Companhia.
Veio de Sabrina a ideia para usarem barro, sujeira, relacionando primeiramente
com a tragédia em Mariana, e depois com Lilith, sobre quem pesquisa há três,
quatro anos.
Para ela, falar de Lilith é contar a
história da primeira mulher feminista, mas o objetivo não é levantar essa
bandeira. É apenas destacar o raciocínio dessa mulher, que, num mundo que
acabava de ser criado, já percebeu que homem e mulher são iguais. Ainda mais se levar em conta que, como essa história foi suprimida da Bíblia, não há como
saber hoje exatamente contra o que Lilith se rebelou. Para Nicolas, foi
prazeroso ver esta criação surgir do nada (o sentimento de Deus ao criar o
mundo?), criação esta que lhe possibilitou brincar com a dominação masculina,
que costuma ficar reprimida no seu dia-a-dia.
Agora
a performance vai ser aprimorada para ser apresentada em festivais. Já tem
presença garantida no Festival de Antonina deste ano.
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