sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Arte para sensibilizar e transformar

Parceria entre performer e a CIA PalavrAção busca dar visibilidade aos moradores de rua

A performer Maria Inês Hamann Peixoto conversou com os participantes do Curso de Extensão de formação de atores – Módulo I – Teatro de Comédia. Ela convidou-os para realizarem a performance “Ninguém é Ninguém”, com o intuito de sensibilizar os curitibanos quanto a situação dos moradores de rua da cidade. A artista visitou a sede da Cia na tarde desta sexta-feira, 1º de setembro.
“A intensão é chamar a atenção dos transeuntes, mostrando para eles que as pessoas viventes em situação de risco, como os moradores de rua, não são invisíveis, como também o seu número é crescente na capital paranaense”, explicou Maria Inês. 

Além da participação do grupo do módulo I, devem atuar na performance membros da Cia e também participantes do segundo módulo do curso de extensão, de acordo com Sergius Ramos, diretor de produção da PalavrAção. “Acreditamos na ação para transformar nossa realidade. E apoiaremos a ação de todas as formas que pudermos”, salientou.
“Ninguém é ninguém” acontecerá na última semana de setembro nas ruas próximas a Praça Zacarias, no centro de Curitiba. 


A artista
Maria Inês é também professora aposentada do Setor de Educação da UFPR. Ela possui graduação em Filosofia, pela PUC-PR, graduação em Pedagogia pela UFPR, onde também obteve seu Mestrado em Educação. E, em 2001, ela recebeu o título de Doutora em Educação, pela Unicamp. Como professora e pesquisadora, Maria Inês trabalhou com os temas: Arte, Educação, Filosofia, Estética, Marxismo.
Como artista, sua primeira performance data do ano de 1996, quando realizou “A Sentença”, na Praça Zacarias, em Curitiba. “A atuação, com a interação do público, acabou durando mais de seis horas; sendo interrompida apenas pela falta de energia elétrica, após uma tempestade que caiu naquela noite”, lembra Maria Inês.

Sob um cubo de gelo de 130 quilos, a performer se colocou vestida de algoz e também acorrentada, sendo ela mesmo a representação da juíza, executora e prisioneira de uma sentença.  À frente da artista postada embaixo do gelo que derretia, uma série de fotos de detalhes da instalação eram oferecidas aos passantes com o título “Escolha e leve a parte da sentença que lhe cabe”. Dentro do cubo, um coração de boi ia se revelando aos poucos. A intensão de Maria Inês era dá-lo ao público, quando do derretimento total do gelo.
A performance foi motivada pelas críticas e polêmicas em torno do 53º Salão Paranaense, realizado naquele ano, e que tinha sua abertura marcada para o mesmo dia em que a artista montou sua instalação, 19 de dezembro. Naquele ano, a instalação de Maria Inês, bem como de outros dois artistas foram aprovadas para participar do salão, após uma seleção com a participação pública, e depois desclassificadas sem justificativa.
Com “A Sentença” na rua, a artista conseguiu alcançar um público que possivelmente não teria no MAC (Museu de Arte Contemporânea do Paraná).

A partir dessa performance, ela realizou muitas outras ações de sensibilização nas ruas de Curitiba e outras cidades do país. E o fruto da reflexão das performances e da recepção do público é sua tese de doutorado “Relações Arte, Artista e Grande Público: a prática estético-educativa numa obra aberta”.

Texto: Daniel Patire
Foto do Encontro: Nicole Micaldi
Foto da Performance "A Sentença": Acervo pessoal da artista Maria Inês Hamann Peixoto